Iaiá
Iaiá, hoje eu vim espalhar um sorriso pra você, porque lembrei de um pezinho de pequi que eu plantei lá na fazenda
quando você nem imaginava o que era pequi.
Eu lembrei do primeiro espinho que grudou na minha língua, suja de leite e Quick.
Eu lembrei ainda dos passarinho, que o Neto derrubava com o estilingue,
e das rodopiadas doidas que eles davam antes de morrer. Cada peninha eu pensava em fazer um colar, um brinco.
Você Iaiá, não fez parte da minha infância, tão pouco da minha pré adolescente unicor,
mas deu uma cor de caqui na minha juventude, cor de lima, cor de parede, de bicicleta, de papai noel.
Quando eu morrer, eu vou virar um pé de jaca, só pra ser bem grande e um monte de gente ficar em baixo, e você vai ensinar seu neto me aguar, fazer xixi em mim, sua neta vai dar uns agarrões no namorado dela, enconstados em mim.
Toda sua vida vai se escorar em mim daqui pra frente.
Eu podia Iaiá te fazer um poema que falasse de amor e de saudades,
eu podia até te fazer ficar com os olhinhos cheios de água,
podia te agradecer por favores, mas eu nem vou... Eu vou é viver, porque assim eu te pago melhor,
com um monte de prestações gostosas de serem pagas.
Você lembra quando ia correr no mato, lá em Mato Grosso e os carrapichos grudavam na sua calça, sempre larga - tanto pano desnecessário para tanta perna fina- e quando você parava de correr e ia tirar os carrapichos da roupa, você não fazia como qualquer criança; não gritava, nem se irritava, você gritava sua mãe, em português mesmo, e pedia uma caixinha, e você guardava todos eles, pra ver como se grudavam, você era assustadora Iaiá, assim como você é até hoje.
Dos seus 13 anos eu só me lembro de um picolé, picolé de uva, que deixava seus dentinhos cor púrpura, o carrinho passava e você pedia para seu irmão pará-lo, tão tímida que não podia gritar com o picolezeiro. Com um picolé Iaiá, você causava inveja na rua inteira, porque se entregava de corpo e alma a ele.
Quando fez 18 nunca imaginou entrar em um hard core, mas entrou de pura birra, a partir daí gostava de usar sapatos diferentes e pintar seus cabelos, nem se lembrava dos carrapichos, que já haviam tantas vezes grudado em suas calças largas. VocÊ não gosta Iaiá de compartilhar as alegrias; ou você as têm sozinha, ou não as têm, e isso não é tão ruim quando parece, a mim, me parece que não gosta de coisas picadas ( no seu aniversário vou te dar um bolo de avelã).
Eu posso até te contar como você estará daqui a uns 20 anos, ou 10, mas eu prefiro não, pra não estragar a surpresa, mesmo sabendo que você adora estragar surpresas. Quer que eu fale do filho? Do marido? Do país? Dos sapatos ?
Não, vou falar pior, vou falar de pezinho de pequi que eu plantei, que daqui a duas vidas, será a sua alma gêmea. Coma todos os frutos dele, mas cuidado com os espinhos.
(Se você leu até aqui é porque vai comer, senão leu, nunca saberá disso, mas logo morrerá de fome, de sede, de carência, sem árvore pra encostar, e sem amigos pra escrever bobeiras.)
quando você nem imaginava o que era pequi.
Eu lembrei do primeiro espinho que grudou na minha língua, suja de leite e Quick.
Eu lembrei ainda dos passarinho, que o Neto derrubava com o estilingue,
e das rodopiadas doidas que eles davam antes de morrer. Cada peninha eu pensava em fazer um colar, um brinco.
Você Iaiá, não fez parte da minha infância, tão pouco da minha pré adolescente unicor,
mas deu uma cor de caqui na minha juventude, cor de lima, cor de parede, de bicicleta, de papai noel.
Quando eu morrer, eu vou virar um pé de jaca, só pra ser bem grande e um monte de gente ficar em baixo, e você vai ensinar seu neto me aguar, fazer xixi em mim, sua neta vai dar uns agarrões no namorado dela, enconstados em mim.
Toda sua vida vai se escorar em mim daqui pra frente.
Eu podia Iaiá te fazer um poema que falasse de amor e de saudades,
eu podia até te fazer ficar com os olhinhos cheios de água,
podia te agradecer por favores, mas eu nem vou... Eu vou é viver, porque assim eu te pago melhor,
com um monte de prestações gostosas de serem pagas.
Você lembra quando ia correr no mato, lá em Mato Grosso e os carrapichos grudavam na sua calça, sempre larga - tanto pano desnecessário para tanta perna fina- e quando você parava de correr e ia tirar os carrapichos da roupa, você não fazia como qualquer criança; não gritava, nem se irritava, você gritava sua mãe, em português mesmo, e pedia uma caixinha, e você guardava todos eles, pra ver como se grudavam, você era assustadora Iaiá, assim como você é até hoje.
Dos seus 13 anos eu só me lembro de um picolé, picolé de uva, que deixava seus dentinhos cor púrpura, o carrinho passava e você pedia para seu irmão pará-lo, tão tímida que não podia gritar com o picolezeiro. Com um picolé Iaiá, você causava inveja na rua inteira, porque se entregava de corpo e alma a ele.
Quando fez 18 nunca imaginou entrar em um hard core, mas entrou de pura birra, a partir daí gostava de usar sapatos diferentes e pintar seus cabelos, nem se lembrava dos carrapichos, que já haviam tantas vezes grudado em suas calças largas. VocÊ não gosta Iaiá de compartilhar as alegrias; ou você as têm sozinha, ou não as têm, e isso não é tão ruim quando parece, a mim, me parece que não gosta de coisas picadas ( no seu aniversário vou te dar um bolo de avelã).
Eu posso até te contar como você estará daqui a uns 20 anos, ou 10, mas eu prefiro não, pra não estragar a surpresa, mesmo sabendo que você adora estragar surpresas. Quer que eu fale do filho? Do marido? Do país? Dos sapatos ?
Não, vou falar pior, vou falar de pezinho de pequi que eu plantei, que daqui a duas vidas, será a sua alma gêmea. Coma todos os frutos dele, mas cuidado com os espinhos.
(Se você leu até aqui é porque vai comer, senão leu, nunca saberá disso, mas logo morrerá de fome, de sede, de carência, sem árvore pra encostar, e sem amigos pra escrever bobeiras.)