Monday, July 31, 2006

Plena


Você assim:
Bela e soberana.
O que faz que me transforma?
Muda tanto o mundo, e me tira dele.
Mas e quanto aos que ficam?
Eos que não te podem ver?
Não tenho me lembrado do lugar qeu saí,
e nem ouso a imaginar onde vou parar.
És a mais puras das artes,
e és mágica porque não és plena.
Necessita sempre.
Isso sim me atrai,
sua necessidade,
que não é de mim,
nem de ninguém.
Você necessita de você mesma,
e isso te faz suprema a todas as demais artes.
Diz,
sem falar.
E geme me mostrando outras vidas.
Fala um idioma universal,
e ao mesmo tempo não fala a ninguem diretamente.
És paradoxal.

Seja qual for o lugar
em que eu estou agora,
a época,
a companhia,
a situação,
tudo, então, fica belo.
E é pra o belo que você me leva
Toda vez que eu te busco.

Saturday, July 22, 2006

Fosco


Alguém aqui já deixou de brilhar? Eu deixei. Hoje, por volta das oito.Você só precisa mesmo de ser, mas você não é. Então, uma coisa que tem, acaba por não aparecer. Ou então, uma coisa que não tem, dessa vez não apareceu.
Imagine que todas as luzes do mundo se sintam mais fortes na sua presença. E que a sua luz, só se sabe que ela existe porque você não desapareceu, mas nota-se que ela é fraca, bem fraquinha. Fui áté o fundo, busquei um talento, algo pra me agarrar... Uma qualidade, uma resistência. E nada de aparecer. As pessoas me deixavam pra trás. E não foi falta de tentar... Eu sorri, eu entristeci, eu fiquei de pé, e por horas, eu sentei; e tudo isso, ninguém viu. Eu cheguei, e mudei as coisas de lugar. Então, desistindo de tentar, eu escrevi. Mas acho que isso nem brilha. Hoje eu não brilhei. Uma coisa aqui que brilhava sempre, hoje se conformou em ser o que é. Então agora fica quieta, e prefere que ninguem veja. Apagou.

Monday, July 17, 2006

Miléssimos

Alguma força veio do nada
Tentar me animar
Me fazer escrever
Me fazer sorrir com verdade.
Um segundo de inspiração.
Que de
ca
iu,
sumiu,
suavizou,
até desaparecer.

Mais uma vez
guardo só pra mim essas idéias que tive.
Guardo pra mim as coisas que tenho pra falar.
Acho que não são coisas desse mundo.
Será que existem pra você também?

Verde com flores

Primeiro eu ouvi assustada. Depois, daqui mesmo, do meu quarto eu identifiquei, o barulho foi horroroso, coisa de outro mundo, como se jogassem um saco cheio de água, eu levantei, não muito rápido, pois eu estava entretida, e olhei pela janela. E daqui mesmo eu vi, o corpo no chão, estirado, do avesso, revirado, tão bagunçado que eu nem sei o comportamento daquele objeto. Logo vi quem era: A velha da feira, porque aos domingos ela sempre usava aquele vestido, verde com flores.
Na verdade eu poderia parar essa história aqui mesmo, pois coisa mais interessante do que aquele barulho acho que não pode existir, nem ser contado, isso me deixa um pouco triste porque eu não posso dividir com vocês. Só eu quem guardou aquele estrondo, porque acredito que para mim ele teve uma sonoridade especial, dado a distância que esteve aqui da janela do meu quarto. Já que eu comecei a história de um jeito muito ruim (comecei pela parte melhor, a qual vocês não podem ouvir.) agora vou tentar falar sobre o dia-a-dia da senhora do vestido verde com flores.
Todos os dias, por volta das 8 horas da manhã tem um vizinho que vai tirar a caminhonete (modelo 86), para ir trabalhar (eu não sei que diabos de trabalho é esse que existe até aos domingo). Eu digo todos os dias porque minha imaginação me dita isso, pois eu nunca estou em casa as 8 da manhã exceto aos domingos, quando estou em casa e tento dormir até mais tarde. Bem, todos os domingos às 8 da manhã, se tornou um ritual aqui em casa: Minha mãe logo ao primeiro barulho da caminhonete, coloca a cabeça pela janela e pede para ele tentar fazer menos barulho, porque tem uma filha que só tem um dia na semana para dormir até mais tarde, a partir daí parece mágica, a caminhonete faz tanto barulho, mais tanto barulho que , assim como a queda da senhora, eu não posso explicar. Então eu me levanto e grito com o senhor, já com o consentimento da minha mãe. Essa senhora, a da queda, sempre estava passando, eu pensava: Isso são horas de ir a feira? Um dia até critiquei as compras e tal. Ela tinha uma bolsinha preta, dessas de zíper, e com uma das mãos puxava o carinho de feira, e com outra segurava a bolsinha, ela segurava de uma forma especial como se na mão dela, bem pequena, coubesse a bolsinha inteira. Uma cena ridícula de simples.
Eu criei um laço com essa senhora, desses laços estranhos, que a gente cria mas ninguém sabe, porque um dia eu desisti da idéia de acordar depois das 8, então eu ia a feira e comprava uns pasteis aqui pra casa, aliás 5. Não sei porque arrisquei um “bom dia”, e daí, aos domingos sempre nos cumprimentávamos. Casual, friamente. Teve até um dia que passei na porta o prédio dela, vi o carrinho no térreo, olhei, e nada.... Única coisa que já falou comigo foi um dia que resolveu chupar um picolé. Pediu de uva, mas a embalagem era amarela, então, ela me perguntou: “Que que tá escrito aqui?” –Sabe aquele jeito que só os velhos tem de perguntar? – Eu disse que era uva mesmo. E fiquei pensando nisso, muito humilhante não poder comprar um picolé por conta própria.
Já que , e eu já tinha avisado, que não tenho nada pra contar sobre essa senhora, eu fico pensando no exato lugar em que caiu o corpo. O lugar nunca se abalou por alguém ter morrido ali, os lugares são frios, não demonstram. Sabe quando alguém morre, sempre aparece alguém pra dizer: Hoje até o dia está triste. Nesse dia não. O dia parecia extremamente feliz. O mundo nem sentiu. Os carros passam naquela rua, e nem sequer imaginam que alguém interrompeu por conta própria um cotidiano simples. As pessoas conversam sobre aquele lugar, as crianças posicionam o gol aos sábados, bem naquele lugar. Eu imaginei meu corpo naquele lugar, e gelei. Depois imaginei as pessoas passando, os namorados beijando, as feirantes correndo... Tudo sobre aquele lugar. E eu já tão longe dele. Eu me lembrei agora do susto que levei quando vi o corpo no chão, eu chamei o meu pai, e ele :”Fecha o olho”. Eu fechei olho, e tento o manter fechado para alguns lugares assim, eu tento o manter fechado para as memórias que se apagam rápido. Eu anda prestando muita atenção aos lugares. Eu piso com cuidado sobre os chão. Para não pisar na memória, nem no cotidiano de ninguém.