Tuesday, February 13, 2007

A(r)mação


Não sei porque mas você me ama só de manhã, você ama descompassado, intenso fraco, presente, ausente, mas você ama, e isso já tem muito tempo, e eu ainda posso querer mais dessa vida, aprendi isso com um samba, um que mecheu com o meu dia.
Hoje eu senti saudades como quando era criança, "Çaudade", com cedilha, pra ser desprendida de qualquer forma, moral, regra. E senti saudades de um lugar, o mesmo que tão distante que é parece que fui em outra vida. E não adianta foto, é pior.
Hoje de manhã você teve devaneios, dos quais eu tenho medo, e , ultimamente eu só escrevo pensando nisso, nas suas novas manias, nos seus trejeitos, na sua nova moda de falar com os mortos, de agradecer a Deus em voz alta. Você fica se lembrando de mim em outros tempos, e isso, por mais bonito ou poético que seja, já se passou, não existe mais. Passou mesmo, de vez, e eu só carrego a suas lembranças no meu corpo, e internamente, por fora não. Hoje eu me lembrei do dia que você morreu mais, e depois lembrei do jeito como veio morrendo ao longo da vida, e ainda morre, um pouco a cada dia, mas, como falta muito pouco pra morte completa, eu já te considero ausente da realidade normal. Você é absurda demais, em todas as horas do dia. Onde você se escondeu essa semana?

Friday, February 02, 2007

A chuva e a valsa


Lá estava ela, não como sempre, os cabelos estavam foscos, pareciam fabricados, pois combinavam muito com o clima do dia, sem saber. Colocou as mãos sobre os olhos, afim de tapar o sol forte, que batia no rosto, eu observei com dor, ela dizia algo sem importância, mas eu ouvia um música muito alta, vinda de dentro de mim, parecia uma valsa, ou música de caixinha de jóias, e somente eu a ouvia, achava injusto, pois a música, assim como o cabelo dela combinava com o dia inteiro, com o mundo, com o ritmo da vida. O sol, que ela havia tampado com a mão foi embora, depois da espera pelo ônibus, então começou a chuva, e ela nem se preocupou com o cabelo, porque sabia que estavam descombinados: O cabelo e a beleza do momento, beleza essa que ela nem viu, porque a um bom tempo já não sabia ver arte nos dias de sol seguidos por chuva. O fato é que começou a chover, e só agora merecia contar ( e é muito triste precisar ouvir algo pra escrever isso, porque não sei a música que passava na alma, mas passava, e alto), com a chuva, ela acelerou o passo, não por causa do cabelo , mas por causa do prazer; sim, ela sentia prazer em caminhar na chuva, cada passo que dava fazia com que as águas do chão espirrassem na sua calça, e no lugar onde a água acertava sentia um friozinho, e esse friozinho a dava prazer, uma gota sobre sua perna dava prazer a todo o resto de corpo, e ela corria mais, sem saber que era esse prazer que a impulsionava passo a passo, e sem ver ou perceber dava passos mais fortes, de forma que a gota ficava maior, e atingia uma superfície também maior, e era prazer, prazer... Chegou em casa, barra da calça molhada, sapato molhado, cabelo úmido. Ela se deitou pra dormir, cobriu somente abaixo do joelho, talvez o calor da coberta a fizesse relembrar o prazer do frio nas pernas. Ela achou que não merecia mais tomar chuva, e, audaciosa, ainda reclamou da sorte. No outro dia se levantou, olhou na janela, viu o sol, forte, pegou um óculos para proteger os olhos castanhos, que me deu de herança, e nem se lembrou que mais tarde teria chuva, porque todo verão é assim. Nem se lembrou do prazer que teria mais tarde, gota a gota; esse tipo de prazer sofrido, aos poucos. E nesse dia, levou o guarda-chuvas. Guarda-chuvas não protegem as pernas. Mais prazer... Isso nunca sobra. Não é perigoso a felicidade, não em gotas.