Friday, February 02, 2007

A chuva e a valsa


Lá estava ela, não como sempre, os cabelos estavam foscos, pareciam fabricados, pois combinavam muito com o clima do dia, sem saber. Colocou as mãos sobre os olhos, afim de tapar o sol forte, que batia no rosto, eu observei com dor, ela dizia algo sem importância, mas eu ouvia um música muito alta, vinda de dentro de mim, parecia uma valsa, ou música de caixinha de jóias, e somente eu a ouvia, achava injusto, pois a música, assim como o cabelo dela combinava com o dia inteiro, com o mundo, com o ritmo da vida. O sol, que ela havia tampado com a mão foi embora, depois da espera pelo ônibus, então começou a chuva, e ela nem se preocupou com o cabelo, porque sabia que estavam descombinados: O cabelo e a beleza do momento, beleza essa que ela nem viu, porque a um bom tempo já não sabia ver arte nos dias de sol seguidos por chuva. O fato é que começou a chover, e só agora merecia contar ( e é muito triste precisar ouvir algo pra escrever isso, porque não sei a música que passava na alma, mas passava, e alto), com a chuva, ela acelerou o passo, não por causa do cabelo , mas por causa do prazer; sim, ela sentia prazer em caminhar na chuva, cada passo que dava fazia com que as águas do chão espirrassem na sua calça, e no lugar onde a água acertava sentia um friozinho, e esse friozinho a dava prazer, uma gota sobre sua perna dava prazer a todo o resto de corpo, e ela corria mais, sem saber que era esse prazer que a impulsionava passo a passo, e sem ver ou perceber dava passos mais fortes, de forma que a gota ficava maior, e atingia uma superfície também maior, e era prazer, prazer... Chegou em casa, barra da calça molhada, sapato molhado, cabelo úmido. Ela se deitou pra dormir, cobriu somente abaixo do joelho, talvez o calor da coberta a fizesse relembrar o prazer do frio nas pernas. Ela achou que não merecia mais tomar chuva, e, audaciosa, ainda reclamou da sorte. No outro dia se levantou, olhou na janela, viu o sol, forte, pegou um óculos para proteger os olhos castanhos, que me deu de herança, e nem se lembrou que mais tarde teria chuva, porque todo verão é assim. Nem se lembrou do prazer que teria mais tarde, gota a gota; esse tipo de prazer sofrido, aos poucos. E nesse dia, levou o guarda-chuvas. Guarda-chuvas não protegem as pernas. Mais prazer... Isso nunca sobra. Não é perigoso a felicidade, não em gotas.

1 Comments:

Blogger Maria Clara Dunck said...

felicidade em gotas... não poderia ter ouvido nada melhor pela manhã.

ficou lindo, muito lindo!

=]

6:57 AM  

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