
Identifiquei um erro: é a poesia que bate à porta, é a poesia que grita.
Gritou na Ásia, na África, na Europa saiu do coração dos famintos e dos gulosos, saiu da boca do velho com medo, saiu da boquinha do bebê que acabou de nascer, e chegou aqui. Roubou o ar da sala, roubou o ar dos animais (inclusive o meu). Inspirou alguém, e isso prova que nada sai de onde está pra chegar em lugar nenhum.
Devia ter data,
Pois a data revela que é perecível,
Assim como o incômodo instantâneo de agora.
Não, não são incômodos como o suor,
Que no banho passa.
Não chore menina,
Isso passa,
E você sabe que é logo.
De tão ruim você pensa que é bom,
E de tão inspirador,
Você pensa que sempre vem poesia,
Não vem, menina, não vem.
Lembra que criamos alguém entre nós,
Pra mediar os impulsos,
Pra controlar os desejos
Que não caiam bem,
Eu não caio bem.
Aquele que criamos foi embora pra sempre.
Eu ando gritando,
Mas ele cisma em não ouvir.
Volta, mediador das impulsões,
Como vamos nos controlar agora,
E se tirarmos as roupas?
E se desaforarmos?
E se cuspirmos uns nos outros?
Deixa acontecer, mediador, melhor deixar mesmo,
Quem sabe a graça esteja nesse cuspe,
Que vai escorrer com ódio pela face estúpida,
Quem sabe ele afogue a mesmice.