Resposta à carta de Maria Clara Dunck

Goiânia, 8 de setembro de 2006
Maria Clara,
Depois de muito duvidar sobre o entendimento humano, tenho me deparado com pessoas que possuem olhos críticos e vontades inteligíveis (ou não), e uma delas, e grande representante é você. Fiquei feliz sobre o que escreveu sobre o meu texto e creio que a graça e interesse do ser humano pelo outro e até mesmo pela vida está inteiramente nesse fato: o de descobrirmos novos mundos. E a procura é lenta e interessante, e, ao mesmo tempo inatingível, por isso somos seres tão complexos e capazes. Essa procura incessante e subjetiva faz com que nós procuremos meios de nós expressarmos. Meios tão subjetivos e pessoais quanto nós mesmos, e desses meios, acredito que o mais expressivo, seja a arte.
Assim como te disseram os críticos, os poetas, os artistas; a vida tem me dito, ou melhor, segredado que o ser humano se reduz a um sentimento único, e esse sentimento se metamorfoseia gerando outros e outros, e mesmo que pareçam muito diferentes, não passam da variação de um mesmo sentimento-base. Essa idéia que acabo de lhe descrever não são ditadas por um princípio romântico (mas pode ser antiquado e démodé), e muito menos por um princípio científico, porque tenho me dado mal com o empirismo pregado pelas academias, mas me dado bem com a evolução de idéias próprias, que muitas vezes somente a vida vem nos provar (e isso não é moderno, nem surreal...). Inclua às idéias de Camus, depois suas, o meu nome também; apesar de que se eu tivesse que escolher “um lado” para desvendar o ser humano, eu sinceramente não saberia. Acho que o mais interessante está no todo e simultaneamente, e não em partes isoladas e fragmentadas. Quanto à definição de conhecer, deixemos pra uma outra carta (ou um romance!).
A idéia do bem, muitas vezes idealizada, e aparentemente distante é o tem me feito acreditar todos os dias em uma engrenagem do mundo, uma força que seja sincera e natural, ou não é capaz de atingir o mundo todo. A velha teoria do caos “O simples ruflar da asa de uma borboleta em um determinado espaço pode causar um tufão do outro lado do planeta...” faz todo sentido nesse caso, e voltemos para o nosso romantismo démodé! (momento reservado para lembrar de um sorriso).
Maria Clara, independente de teorias que surgiram, ou venham a surgir, espero que consigamos manter o caráter observatório, esse simples e natural, que envolve umas simples cartas entre amigas. As teorias, com todo o respeito a todas elas, envolvem questionamentos que podem ter sofrido influências de todas as partes, nenhum ser humano elabora um teoria pura, sem que nela estejam contidas as suas vivências e características. Por esses motivos, e por possíveis vários outros, é que o mundo existe em um ciclo não muito variável. O ser humano, como pertencente ao ciclo, é o que tem nele de mais complexo e variável. O ser humano se veste todos os dias, antes mesmo de sair de casa, e só se despe dessa vestimenta quando encontra outra mais confortável.
Fico muito feliz que meu texto tenha te levado a ter um pensamento profundo e reflexivo, muitas vezes isso não acontece comigo, mas acho que o tal ciclo, não variável, está em nós, e naturalmente a vida nos conduz para um caminho repetitivo, mas cheios de pequenos detalhes e pormenores que nos fazem grandes.
Obrigada pela oportunidade de discutirmos pensamentos tão pessoais, que de uma forma tão distorcida acaba atingindo seres tão grandes como é você. E com toda licença encerro minha carta com um texto seu, que vem a calhar nesse momento:
“(...)Quem comanda esse absurdo?
E será que existe alguma semelhança entre os iguais?
(...)
Então eu canto a mim mesma,
Uma cantiga velha de um compositor velho,
Mas que ainda não morreu
E a terra continua girando em torno do sol,
Meus pensamentos giram em torno da lua
E eu não dou moral da história ao poema
Porque isso não me convém.”
Sem despedidas convenientes para o momento.
Déborah Dias.
1 Comments:
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